Niemeyer condena tombamento de Brasília e pobreza das cidades satélites


Nos últimos anos, o arquiteto Oscar Niemeyer, responsável pela concepção de prédios, monumentos e palácios de Brasília, manifestou sua decepção com os rumos da capital federal, que, como tantas outras cidades, têm problemas sociais – em especial a desigualdade entre o Plano Piloto e as cidades satélites. O arquiteto também é contra o tombamento da cidade.

No início de 2009, Niemeyer envolveu-se numa polêmica com Brasília: apresentou um projeto de construção da Praça da Soberania, que seria erguida nos jardins entre a Rodoviária do Plano Piloto e o Congresso Nacional. Criticado por arquitetos, representantes do governo e do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o projeto de Niemeyer, desta vez, não saiu do papel, rejeitado pelo Governo do Distrito Federal e até mesmo pela população da cidade, ouvida em enquetes realizadas por jornais.

Durante essa polêmica, Niemeyer não só defendeu a necessidade de construção da tal praça como afirmou que o tombamento de Brasília “era uma besteira”. Argumentou que todas as principais cidades do mundo sofrem modificações ao longo do tempo.

Em entrevista concedida em fevereiro de 2009 à Folha de São Paulo, o arquiteto disse: “Uma cidade não pode ser tombada, porque sempre aparecem modificações. Se Paris fosse tombada, não existiria a Champs-Élysées nem o Arco do Triunfo. Se Barcelona fosse tombada, a cidade não teria se voltado naturalmente para o mar. Uma cidade tombada é uma ignorância. As modificações são inevitáveis, e Brasília ainda vai passar por muitas delas”.

Para Niemeyer, Brasília está um tanto modesta para um país que cresce “com tanto entusiasmo”. Disse mais: “Se o Juscelino [Kubitschek, o então presidente responsável pela construção de Brasília] estivesse vivo, ele ia ficar do meu lado. Ele nunca aceitaria o que está se passando nas cidades satélites”.



Biografia



Nascido no Rio de Janeiro em 15 de dezembro de 1907, em Laranjeiras, Oscar Ribeiro de Almeida Niemeyer Soares Filho formou-se em arquitetura e engenharia em 1934 pela Escola Nacional de Belas Artes. Filho de Oscar Niemeyer Soares e Delfina Ribeiro de Almeida, casou-se aos 21 anos com Annita Baldo, com quem teve sua única filha, Anna Maria. Ficou viúvo em 2004 e, em 2006, casou-se com sua secretária, Vera Lúcia Cabreira.

Niemeyer começou a frequentar o escritório de Lucio Costa ainda em 1934. Em 1936, participou da comissão formada para definir os planos da sede do Ministério da Educação e Saúde, no Rio de Janeiro, sob supervisão de Le Corbusier, a quem assistiu, como desenhista, durante sua estada de três semanas na cidade.

Entre 1940 e 1944, projetou, por encomenda do então prefeito de Belo Horizonte, Juscelino Kubitschek, o conjunto arquitetônico da Pampulha, que se configura num marco de sua obra. Em 1947, foi convidado pela Organização das Nações Unidas (ONU) a participar da comissão de arquitetos encarregada de definir os planos de sua futura sede em Nova York.

Em 1955, fundou, no Rio, a revista Módulo, e, no ano seguinte, a convite de JK, então presidente da República, começou a participar da construção da nova capital, cujo plano urbanístico foi confiado a Lucio Costa. Em 1958, Niemeyer foi nomeado arquiteto-chefe da nova capital e transferiu-se para Brasília, onde permaneceu até 1960. Em 1972, abriu um escritório em Paris.

Autor de extensa obra no Brasil, Niemeyer realizou também grande número de projetos no exterior, como a sede do Partido Comunista Francês, em Paris, em 1967; a Universidade de Constantine, na Argélia, em 1968; e a sede da Editora Mondadori, em Milão, também em 1968. Sobre as obras feitas em Brasília, Niemeyer disse: “Quem for a Brasília pode não gostar dos palácios, mas não pode dizer que viu antes coisa parecida. E arquitetura é isso – invenção”.



Helena Daltro Pontual/Agência Senado



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