Câmara estuda processo contra Bolsonaro

Deputado defendeu na TV fechamento do Congresso e disse que FHC deveria ter sido fuzilado pelos militares
LIÈGE ALBUQUERQUE
BRASÍLIA - A Mesa da Câmara deve reunir-se hoje e decidir se abre sindicância para apurar declarações polêmicas do deputado Jair Bolsonaro (PPB-RJ), veiculadas na madrugada de domingo na TV Bandeirantes, no programa Câmera Aberta. No programa, o parlamentar sugeriu o fechamento do Congresso e afirmou que, no período da ditadura, deveriam ter sido fuzilados "uns 30 mil corruptos, a começar pelo presidente Fernando Henrique Cardoso". Ontem de manhã, ele reafirmou suas idéias e disse que apenas repetiu na entrevista o que costuma dizer na tribuna da Câmara, onde os colegas "já estão acostumados" com suas opiniões. De acordo com o corregedor-geral da Câmara, Severino Cavalcanti (PPB-PE), "dependendo do linguajar do deputado", a secretaria pode entrar com uma representação alegando quebra do decoro parlamentar, o que poderá culminar na cassação de seu mandato, após processo. O regimento da Casa prevê, ainda, em casos considerados menos graves de quebra de decoro, que o parlamentar seja suspenso por 30 dias. Ao saber das declarações de Bolsonaro, o presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), sugeriu sua cassação. "Se ele prega isso, deveriam cassar o mandato dele", disse ACM. "Não vi a entrevista e não tenho de tomar conhecimento das loucuras de alguém que evidentemente está perdendo o senso e o juízo." Fernando Henrique comentou, por intermédio de seu porta-voz, Georges Lamazière, que as afirmações de Bolsonaro "demonstram que ele não se converteu à democracia". Segundo o porta-voz, o presidente manifestou "sua certeza de que o Congresso tomará as medidas cabíveis ao caso". Dez minutos - O corregedor da Câmara informou que deve solicitar ainda hoje uma cópia da fita do programa para que a Mesa possa analisar as declarações de Bolsonaro. O programa foi gravado na sexta-feira e veiculado na madrugada de domingo. Foram menos de dez minutos no ar, mas o suficiente para o deputado exibir toda sua agressividade. "No período da ditadura, deviam ter fuzilado uns 30 mil corruptos, a começar pelo presidente Fernando Henrique, que era das esquerdas, o que seria um grande ganho para a Nação", atacou. Ao ser questionado sobre a política dos direitos humanos no País, Bolsonaro criticou o secretário-nacional de Direitos Humanos, José Gregori. "É um absurdo o secretário ter ido a São Paulo visitar os seqüestradores do Abílio Diniz (empresário); com isso, ele demonstra ter mais estrume na cabeça do que Sérgio Motta (ministro das Comunicações morto o ano passado) tinha na barriga", disse. O deputado criticou ainda o relator da reforma tributária, deputado Mussa Demes (PFL-PI), que estaria defendendo uma alíquota de 40% no Imposto de Renda para faixa de ganho mais alto. "Esse deputado não deve viver de salário para falar um absurdo desse", disse. Capitão da reserva do Exército, Bolsonaro é conhecido por suas posições radicais, como a instituição da pena de morte. Ontem não desmentiu nenhuma das declarações. "Até já tentaram me processar em 1992 porque eu disse que deviam fechar o Congresso", lembrou. Ele disse ter "mais medo de ser castrado e impedido de falar o que pensa" do que ter o mandato cassado. Bolsonaro disse que suas declarações estão "protegidas" pela imunidade parlamentar, que lhe garante liberdade de opinião. "Posso criticar a imprensa, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e, por que não, posso criticar o Congresso e o Executivo." Ele não identificou a quem se referia quando falou de corruptos no Congresso. "Você quer me deixar mal com meus colegas?", perguntou.