Tumulto após adiamento de votação do projeto que pune discriminação a homossexuais

Da Redação | 12/05/2011, 15h30

Uma discussão entre a senadora Marinor Brito (PSOL-PA) e o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) ganhou os corredores do Senado depois do adiamento da votação do projeto que pune a discriminação contra homossexuais. Os dois estão em lados opostos no debate da proposta (PLC 122/06), que constava da pauta da Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH), nesta quinta-feira (12).

Depois do adiamento, Marinor e Bolsonaro acompanhavam uma entrevista da senadora Marta Suplicy (PT-SP), relatora da matéria. Marinor se indignou com a insistência de Bolsonaro, um dos mais ferrenhos críticos do projeto, em se posicionar no enquadramento das câmeras de televisão para dar visibilidade a um panfleto contrário à distribuição em escolas de uma cartilha que se propõe a promover a tolerância a gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais (GLBTs).

Num gesto brusco, Marinor tentou afastar o panfleto do foco e exigiu que o deputado se retirasse. Também classificou Bolsonaro de "homofóbico" e "assassino de homossexuais". O que se viu depois foi uma discussão acalorada, com o deputado se dizendo impedido de exercer sua liberdade de expressão e chamando a senadora de "heterofóbica". Por sua vez, Marinor questionou a origem do dinheiro para a impressão do panfleto, antecipando que denunciará o deputado pelo uso indevido de recursos públicos.

A cartilha está sendo distribuída pelo governo, como parte das ações do Plano Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos de LGTB (Lésbicas, Gay, Bissexuais, Travestis e Transexuais). No panfleto divulgado por Bolsonaro, dirigido aos "chefes de família", há um alerta de que esse plano quer transformar crianças "de 6 a 8 anos em homossexuais". O deputado explicou depois que ainda não pagou a impressão e que fez consulta à Câmara para saber se poderá usar a verba de gabinete para quitar a pendência.

Providências 

Após o episódio, Marinor relatou o fato na reunião da CDH e pediu ao presidente da comissão, Paulo Paim (PT-RS), que tome as providências cabíveis. De acordo com a senadora, os manifestantes contrários ao projeto se colocaram de forma desrespeitosa atrás da senadora Marta Suplicy no momento da entrevista. Integrantes de igrejas evangélicas já haviam marcado presença na reunião durante o debate. Muitos usavam um adesivo na boca para divulgar a mensagem de que o projeto restringe a liberdade religiosa.

- Eles estavam ali com o firme propósito de agredir, de desrespeitar - disse Marinor, em relação ao cerco no momento da entrevista.

Para a senadora, os panfletos seriam uma prova de que há um "movimento homofóbico instalado no Congresso". Ela disse que também pedirá apuração sobre seu conteúdo, sobretudo porque o texto compararia os homossexuais aos pedófilos.

De volta à CDH, Marta Suplicy condenou a comparação, segundo ela "totalmente equivocada".

- Homossexualismo não é pedofilia. Pedofilia é uma perversão, está criminalizada e merece cadeia - disse.

De acordo com Marta, fazer esse tipo de associação é um fato criminoso, pois "criminaliza pessoas que não são criminosas". Além disso, observou que a relação vai contra qualquer estudo de sexualidade, matéria à qual disse ter dedicado muitos anos de sua vida.

- Estudei a sexualidade durante anos, como psicóloga e como psicanalista. Não posso ouvir uma coisa dessas e ficar calada - acrescentou.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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