Rio+20 caminha para retumbante fracasso, adverte Collor

Da Redação | 15/12/2011, 17h25

A Rio+20, conferência das Nações Unidas sobre desenvolvimento sustentável, prevista para junho de 2012, caminha para "um retumbante fracasso", afirmou nesta quinta-feira (15) o presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE), senador Fernando Collor (PTB-AL).

Vários integrantes da CRE apoiaram Collor em sua advertência e cobraram do governo federal providências para dar ao evento importância similar à da Rio 92, que há 20 anos reuniu no Brasil 182 chefes de Estado ou de governo, inclusive o então presidente dos Estados Unidos, George Bush (pai).

Collor disse que a importância da Rio+20 tem se reduzido no discurso da presidente Dilma Rousseff desde o comunicado conjunto que ela assinou com o presidente chinês Hu Jintao, em 13 de abril deste ano. Na ocasião, os dois países se comprometeram com o êxito do evento.

- De lá para cá, o tema sofreu um downgrade [retorno a um ponto anterior, o contrário de upgrade] no discurso presidencial. É preciso que a presidente chame o feito à ordem e atribua à Rio+20 o mesmo impulso que dá à realização da Copa do Mundo de 2014 e da Olimpíada de 2016 - disse Collor.

Temas

A própria escolha dos temas, na avaliação de Collor, pode contribuir para o fracasso da Rio+20. O presidente da CRE sugeriu uma ação mais firme do Brasil para romper "amarras" nos temas escolhidos pelas Nações Unidas - economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza e estrutura institucional para o desenvolvimento sustentável.

Collor disse que é preciso incluir nos temas, de maneira explícita, as mudanças climáticas e impedir retrocesso nos avanços obtidos na Rio 92. De acordo com o senador, nesses 20 anos a situação piorou e a preocupação com o aquecimento tem caído.

Na avaliação do presidente da CRE, a 17ª Conferência das Partes (COP 17) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, encerrada em 11 de dezembro em Durban, na África do Sul, só não fracassou totalmente pelo esforço da delegação brasileira.

Collor disse que, se a comunidade internacional não for capaz de impedir que o aumento da temperatura se fixe em menos de 2 graus Celsius acima do nível pré-industrial, alguns países poderão simplesmente desaparecer. É o caso de Estados-ilhas agrupados na Alliance of Small Island States, como Maldivas, Tuvalu e Kiribati.

Deserção

Vice-presidente da CRE, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) declarou-se preocupado com as notícias que tem recebido sobre a ausência de chefes de governo estrangeiro na Rio+20. Para ele, uma conferência com participação apenas de delegações diplomáticas e técnicas pode não produzir os resultados esperados.

Como anfitrião da Rio 92, Collor revelou o que fez para assegurar a presença do presidente norte-americano na Rio 92, essencial ao sucesso do evento. Diante das notícias de que Bush não compareceria, Collor e o oceanógrafo Jacques Cousteau resolveram "acampar" na Casa Branca e levaram a idéia ao então ministro das Relações Exteriores, Celso Lafer. O então chanceler pediu um prazo de 24 horas e obteve do governo de Washington a confirmação da presença do presidente norte-americano.

Cristovam disse que a dramaticidade da questão climática e o risco de perda de oportunidade, com um eventual fracasso da Rio+20, precisam ser levados ao conhecimento da opinião pública.

Riscos

Já o senador Jorge Viana alertou para algo que considerou grave: uma possível reunião do G20 (as 19 maiores economias do mundo, mais a União Europeia), no México, às vésperas da Rio+20.

- Se isso acontecer, a conferência pode se inviabilizar, o que seria muito grave, porque o mundo precisa do êxito da Rio+20 - advertiu.

Por sugestão da senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), a CRE deverá realizar em fevereiro uma audiência pública a fim de conhecer as providências do governo para assegurar o êxito da Rio+20.

Cristovam Buarque sugeriu que a comissão convide para essa reunião, além de autoridades do governo federal, o presidente das Maldivas, Mohamed Nasheed, e o diplomata chinês Sha Zukang, secretário-geral da Rio+20.

Os senadores Luiz Henrique da Silveira (PMDB-SC) e Eduardo Suplicy (PT-SP) sugeriram que também se convide para o evento o economista polaco-francês Ignacy Sachs, um dos formuladores do conceito de desenvolvimento sustentável. 

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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