Durante homenagem no Senado, ministra envia comunicado garantindo apoio ao Tempo Glauber

Da Redação | 23/08/2011, 19h10

A homenagem ao cineasta Glauber Rocha (1939-1981) no Plenário do Senado provocou uma tomada de posição do Ministério da Cultura em relação ao espaço mantido pela família para a preservação de documentos do cineasta. Ainda durante o desenrolar do evento, na tarde desta terça-feira (23), o presidente da Casa e da sessão, José Sarney, informou que a ministra da Cultura, Ana de Hollanda, acabara de enviar um comunicado formal de apoio ao Tempo Glauber Rocha.

Pouco antes, a filha do cineasta, Paloma Rocha, pedira, da tribuna, que o Senado Federal e o Ministério da Cultura não permitissem o fechamento do projeto. Os 30 anos da morte do diretor de Deus e o Diabo na Terra do Sol motivaram a senadora Lídice da Mata (PSB-BA) a propor a realização da homenagem.

Em seu pronunciamento, Paloma Rocha lembrou a luta para a preservação da memória de Glauber empreendida por Lúcia Rocha, mãe do cineasta, também presente à sessão. Ela lembrou que o Tempo Glauber não conta com sede própria nem recursos regulares, e teve de demitir seis funcionários no mês passado por falta de verbas.

A filha do diretor afirmou que as políticas culturais do governo de Luiz Inácio Lula da Silva favoreceram a manutenção do acervo mantido no espaço cultural, parcialmente adquirido pelo Ministério da Cultura em 2009, durante da gestão de Juca Ferreira. Esses 30 mil documentos fazem hoje parte da Cinemateca Brasileira e estão disponíveis ao público. Mas outros 50 mil documentos necessitam de cuidados para sua preservação.

- Apelo à Casa e ao Ministério para que não permitam o fechamento do Tempo Glauber - pediu Paloma.

Pouco depois, o presidente do Senado - que era amigo do cineasta, prematuramente falecido, aos 42 anos - leu, da presidência da sessão, o comunicado recebido da ministra, no qual ela afirma que o projeto "terá todo o seu apoio".

Revolucionário das imagens

Lídice da Mata (PSB-BA) também lembrou a luta de Lúcia Rocha para construir o espaço cultural em memória a Glauber em Salvador, o que não se viabilizou. Mas afirmou que o Tempo Glauber está instalado no Rio de Janeiro "graças à tenacidade, à perseverança e à luta" da mãe do cineasta.

A senadora afirmou que Glauber foi "um dos mais inventivos, brilhantes e conceituados cineastas brasileiros".

- Ele foi, no Brasil artístico, um revolucionário das imagens. Ao lado da pregação em defesa dos marginalizados da terra, queria também a forma revolucionária que intensificasse a transmissão visual do desespero e da dor provocados pela fome, implacavelmente expulsando de seu habitat a procissão dos deserdados - afirmou a senadora, lembrando do pioneirismo do cineasta ao fundar e manter, ao lado de Zelito Vianna, a produtora Mapa.

Para Lídice da Mata, que foi prefeita de Salvador, Glauber, além de ter sido um cineasta reconhecido mundialmente como líder e principal figura do movimento conhecido como Cinema Novo, "foi autor dos mais relevantes escritos sobre arte cinematográfica já publicados no país".

O senador Walter Pinheiro (PT-BA) afirmou que a homenagem a Glauber é a reverência a um ideário. Para ele, o desafio do Ministério da Cultura hoje é ampliar a obra e os ensinamentos de Glauber Rocha.

O senador Geovani Borges (PMDB-AP) enfatizou que Glauber "projetou o Brasil internacionalmente", tendo sido "um cosmopolita que nunca deixou de ser sertanejo". A senadora Marta Suplicy (PT-SP) afirmou que Glauber foi "um dos grandes pensadores de sua geração", "um símbolo da criatividade do cinema nacional e um gênio brasileiro".

O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) leu um trecho da entrevista concedida pela mãe de Glauber, Lúcia Rocha, ao Jornal do Senado, na qual ela revela que, em vez de brincar com os garotos de sua idade, ele passava os dias dentro de casa, lendo e escrevendo. Bastante jovem ainda, dizia para a mãe que a cabeça dele era "um vulcão". O senador, que esteve presente ao enterro de Glauber, chorou no final de seu pronunciamento.

Longas noites

Ao encerrar a sessão, José Sarney afirmou que a sessão de homenagem a Glauber tinha uma importância muito grande, que é manter viva a memória do cineasta.

- Na história da inteligência brasileira, Glauber Rocha foi, sem dúvida, um dos instantes maiores que tivemos. Romancista, poeta, jornalista, cineasta, marcou de genialidade todas essas atividades de espírito - afirmou o presidente do Senado.

José Sarney lembrou as conversas "de longas horas" com Glauber sobre a cultura, o país e seus problemas. Recordou, envaidecido, que Glauber falava com os amigos: "Vou a Brasília conversar com Sarney".

- Consumíamos noites inteiras, até madrugadas - rememorou José Sarney.

O presidente do Senado Federal lembrou ainda o filme Maranhão 66, no qual Glauber filmou a posse de José Sarney como governador daquele estado. Afirmou que Glauber, além de filmar a posse, "filmou a miséria, o Maranhão, os casebres, seus tipos humanos" e "teve a genialidade de pegar a minha voz e mudar a ciclagem de tal modo que parecesse uma voz de fantasma no meio de toda aquela beleza que ele conseguiu fazer do filme".

No início da homenagem, o Coral do Senado interpretou a ária da BachianasBrasileiras nº 5, de Heitor Villa-Lobos.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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