De pichadores a grafiteiros

Da Redação | 07/05/2010, 19h14

O estudante R.G., 15 anos, é um pichador arrependido. Ele afirma que escrevia com spray nos muros da cidade de Sobradinho, no Distrito Federal, em busca de fama, "para marcar território", até que percebeu que isso não leva a nada. Com medo de ser pego pela polícia, parou de pichar. Diz que agia por conta própria, não participava de gangues nem é um aluno de baixo rendimento.

- A pichação é ruim, porque também eu não ia gostar que pichassem a minha casa. Onde eu pichei, eu quero pintar os muros, fazer um grafite - afirma.

R.G. frequenta uma oficina de grafite do programa Picasso não Pichava, uma iniciativa do governo do Distrito Federal, em parceria com a organização não governamental 100% Cidadania e o Banco de Brasília, que tem como objetivo o combate à pichação. Em dez anos, o programa atendeu 20 mil jovens. Atualmente tem 1.200 alunos matriculados em quatro localidades do Distrito Federal.

O monitor da oficina de grafite de R.G. é outro ex-pichador. Leandro Alves, 27 anos, o TellHC, conta que, além de pichar, envolveu-se com gangues e drogas. Para ele, o desejo de se afirmar e de pertencer ao grupo é o que motiva os jovens a fazer pichações.

- O jovem quer chamar a atenção para si, ou usando drogas, dando trabalho na escola e para a família, ou degradando o patrimônio público, para obter fama - explica.

Ele acrescenta que "a pichação é viciante", porque envolve risco, adrenalina e que as gangues dão "a falsa ilusão de se ter uma família". O grafiteiro critica as iniciativas legislativas no sentido de criminalizar a pichação e diz que ela é mais um reflexo dos problemas da juventude: "A questão é só de educação mesmo".

Para a coordenadora do Picasso não Pichava em Sobradinho, Dora Portilho, a raiz do problema está na desocupação e na falta de perspectivas profissionais de muitos jovens: "Muitos dizem que não têm o que fazer. Eles querem trabalhar, mas não têm emprego".

Rafael Faria / Jornal do Senado

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

MAIS NOTÍCIAS SOBRE: